domingo, 15 de abril de 2007

Noite q nunca vou esqecer

O meu primeiro conto, de poemas passo para contos.. Espero que gostem, baseado em uma historia veridica e com base num guiao da disciplina de Português


Após uma noite de imensa diversão, encontro-me em casa a recordar os acontecimentos de ontem. Foi tudo tão magnífico que me recordo de todos os pormenores, até ao mais insignificante gesto.

Enquanto eu e o meu amigo, que por incrível que possa parecer ontem vestiu-se de uma maneira um tanto para o esquisito. Vestia um fato escuro e um chapéu já bastante fora de moda, sendo ele o tipo de pessoa que está sempre na última moda. Quando o fui buscar a casa, no meu carro branco, senti-me um pouco constrangido em estar junto dele, uma vez que eu vestia algo muito simples, nada de informal, nem fora de moda. Estranhei o facto de ele se vestir assim, mas não me atrevi a fazer-lhe qualquer tipo de pergunta. Assim seguimos até ao nosso destino, desejando que elas lá aparecessem. Á medida que nos íamos aproximando do nosso destino, deparamo-nos com algo um pouco estranho, na altura nem demos importância a esse acontecimento. Tinha sucedido um acidente que nos dificultava a passagem, algo estranho e assustador. Um acidente na estrada, em que à primeira vista não se viam feridos, apenas se observava pedaços de vidro espalhado por todo o pavimento, dois carros novos completamente despedaçados e por incrível que possa parecer, encontrava-se no local do acidente um carro vermelho perfeito, sem nada danificado e junto dele estava um velho homem, com os seus 80 anos, de barba pendida e branca, todo enrugado mas sempre com um sorriso lindíssimo na cara, porém parecia que estava destrocado por dentro, a tocar o seu tambor, que como o homem, também era velho. O meu amigo não viu o carro vermelho nem o homem do tambor, apenas o acidente e ficou angustiado, mas depois de conseguirmos, em marcha lenta, passar pelo acidente, nunca mais nos lembramos do sucedido. Estávamos prestes a chegar ao bar, quando recebemos uma mensagem da Marina, a perguntar se já estávamos a espera delas e a informar que iam chegar um pouco atrasadas porque estavam na casa de uma delas. Enquanto esperávamos por elas, cheguei a falar com ele sobre o velho homem que tinha visto junto do carro vermelho, e de como achava estranho o carro não ter nem sequer um arranhão e da felicidade do homem a tocar o seu tambor, mas o Jorge nem ligou ao que lhe disse, estava demasiado excitado com a chegada ao bar e a pensar na sua diversão.

Passado duas horas de puro desespero, por minha parte, chegaram as quatro donzelas, a minha preferida é a loira sem dúvida. Pediram-nos imensas desculpas pelo desastroso atraso, mas tinham estado com as grandes preparações para saírem. Ela vestia uma blusa rosa super justa e uma saia preta, comprida que lhe ficava muito bem, e para meu espanto ela trazia uns sapatos de tacão agulha, coisa que ela nunca gostou muito. O seu estilo de roupa é um pouco desportivo misturado com punk, mas naquela noite estava diferente, parecia uma deusa vinda dum paraíso distante, os olhos dela estavam dum azul mais cristalino do que as águas do Pacifico, o seu cheiro era inconfundível, usava um perfume doce, que cativava o olfacto de todos que o inalavam. Os seus cabelos, naquela noite estavam mais radiantes do que próprio Sol no seu ponto mais luminoso, também eles cheiravam àquele doce perfume que não se conseguia distinguir a sua essência. Toda ela estava bela. Ela iluminou-me naquela noite, fiquei puramente fascinado com o seu meigo sorriso, aquele sorriso capaz de mover montanhas e de abrir o mar, como Moisés o fez. Já não dá para esconder o que sinto por ela, por mais que tente é quase impossível. Derreto-me ao mínimo gesto que ela faça, aquele trocar de olhares enlouquece-me, não resisto a um sorriso vindo da sua boca. Tento esconder o que vai na minha alma, faço por esquecer este sentimento que não sei distinguir ao certo o que é. Pura amizade? Início de algo mais forte? Não sei onde encontrar a resposta, mas é nestes momentos que me lembro do velho e do carro vermelho. Ele entra na minha mente como se me quisesse dizer algo, como se soubesse de algo que eu necessito de saber. O velho é como as respostas a todas as minhas perguntas, ele está sempre presente na minha mente quando me pergunto algo que nunca obtenho resposta.

- Olá Bruno! Então como estás? Fizemo-vos esperar muito? Desculpem – virando-se para nós os dois, e fazendo aquele olhar de cachorrinho abandonado – nos estávamos a esticar o cabelo à Filipa que nem demos pela rápida passagem do tempo.

Com um olhar daqueles eu fiquei sem reacção, não conseguindo dizer que tinha sido bastante aborrecido estar à espera delas. Em seguida mudamos de bar, fomos para um bastante mais acolhedor com imensos puff vermelhos dispostos em círculos de quatro, dois individuais e dois ternos, em que as paredes eram todas artisticamente pintadas de preto. As três raparigas sentaram-se num terno, o Jorge e mais três amigos que encontramos, dispuseram-se pelo terno e pelo puff individual. Enquanto que eu fui o primeiro a me sentar no puff, reparei que a minha diva loira tinha ficado sem lugar, então cedi-lhe o meu puff.

– Não vais ficar em pé por causa de ser um pouco lenta a arranjar um lugarzinho para me sentar. Que tal partilharmos esse puff? Assim ninguém fica prejudicado, apesar de ficarmos um pouco apertados. – Desta vez não fez o seu divinal sorriso. Ela estava a falar mesmo muito seriamente, nem parecia que estava com segundas intenções no que dizia.

Levamos, todos, a noite inteira a falar e a recordar os velhos tempos, apesar de só as ter conhecido há pouco mais de um mês. Mês esse que parece uma eternidade, tanta coisa pode acontecer em um simples mês, sentimentos fracos podem-se tornar fortes, mágoas que não saram mas tentam-se esquecer. Enquanto ela estava ao meu lado, eu de braço por cima dos ombros dela, para cabermos melhor os dois no puff, praticamente enroscados um no outro, sentia-me nas nuvens ao lado dela.

- Oh Bruno! Isto aqui esta tudo muito calmo, quero beber alguma coisa!

O Jorge nem me deu tempo de responder, virando-se para mim diz-me ao ouvido:

- Que achas de lhe darmos um El Diablo? Se for apenas um não faz efeito. Só tem bebido Coca-Cola e já sabes que ela tem aquelas paranóias todas do gás nas bebidas, então vamos buscar um El Diablo e dizemos que não é muito forte e que não lhe faz nada, sendo apenas um. E ela está completamente normal nem bebeu nenhum álcool ainda. Que me dizes?

- Se ela quiser podemos lhe dar um desses, mas tens que entender que ela não esta habituada a beber muito forte.

Assim nos dirigimos até ao balcão, eu o Jorge e a menina loira, ela estava um pouco desconfiada mas disse que confiava em mim, e que se acontecesse alguma coisa a culpa era minha, e claro não podia faltar aquele sorriso e aquele olhar. Eu não estava muito convencido em dar-lhe a beber aquela bebida, mas só de ver a sua cara de satisfação, nem me atrevi a não lhe dar. Os olhos dela brilharam ao ver aquela bebida avermelhada dentro de um pequeno copo em cima do balcão. Como poderei eu resistir a este olhar!? Como poderei eu negar alguma coisa a esta rapariga!?

Voltamos para junto do resto do pessoal e estavam todos entretidos, já se riam de tudo e por nada, mas é de salientar que não havia ninguém alcoólico naquele grupo, apenas se estavam a divertir. O Jorge regressou para junto dos rapazes e notei que a namorada dele tinha acabado de chegar. Entretanto as donzelas quiseram mudar de bar, pois aquele mesmo que tenha um ambiente muito favorável, a musica é um pouco pesada. Elas queriam se divertir e não ficar a noite toda sentadas num bar a falar. Dirigiram-se para uma discoteca, onde passam aquelas músicas que eu dispenso, o hip hop americano mixado. Mas também não as podia obrigar a ficar, pensei que iria ficar umas horinhas sem a minha loira, foi ai que fiquei super surpreendido, ela falava aos segredos com a sua amiga Filipa.

- Meninas, eu não estou com muita vontade de ir para uma discoteca. Isto aqui está mais agradável. Quero me divertir e dançar, todavia não o quero deixar aqui, entendam! Fiquem mais um pouco, peço-vos. Ele não gosta daquele tipo de música, já sabem que isto é a vida dele. Não vou fazê-lo mudar de gostos e nem o quero obrigar a aturar a música que ele mais detesta.

- Eu fico contigo, também não me esta a apetecer muito ir com elas, mas já sabes que elas preferem discotecas do que este tipo de bar. E eu concordo contigo, queres ficar com ele, e para não dar muito nas vistas eu fico contigo, digo que me aborreceu e tu ficas-te para me fazer companhia, pode ser?

Provavelmente ficaram porque a Filipa estava entretida com o Joel, então não queria ir para a discoteca, assim a Menina Loira ficou apenas para lhe fazer companhia, não dando importância ao facto de eu ter ficado bastante feliz por ela ter preferido ficar ao ir com as amigas.

– Bruno, vamos beber mais um? É o ultimo prometo.

– Tens a certeza? Olha que isto é muito forte.

– Tu da primeira vez disseste para eu confiar em ti, eu confiei. Se me deixaste beber foi porque afinal não e tão forte assim.

Eu já não sabia o que fazer, sabia que se ela continuasse a beber daquela maneira iria ficar bêbeda, no entanto que poderia eu fazer!? Apesar de ser amigo dela, não a posso obrigar a fazer o que ela não quer. Dirigimo-nos para o balcão e pedi mais uma bebida, e mais outra e outras mais fracas. Ela já cambaleava. Mas sempre com aquele sorriso arrasador. Foi ai que fomos para fora do bar, apenas eu e ela. Ela estava um pouco farta de estar no bar, além disso ela nunca foi muito apreciadora daquelas músicas e sei que aquele bar sempre foi a última escolha a frequentar. Aqueles tipos de músicas, aqueles gritos que ela intitula de “vómitos”, são músicas muito pesadas para os seus sensíveis ouvidos. Por isso concordei com ela em ir um pouco lá para fora. Fomos para um muro junto ao mar, um pouco romântico demais para simples amigos, mas não havia outro local. Eu sentia um pouco de receio que ela caísse para trás, uma vez que ela já não estava muito bem. Coloquei o meu braço à volta da cintura dela, queria que se sentisse segura ali comigo, mesmo naquele estado. Chegou a uma altura que ela já não dizia coisa com coisa, mas o sorriso não saia dos seus lábios, ainda que tivesse ligeiras alterações. A sua voz já não estava igual, falava de um tom nortenho misturado com algarvio. Cuidei dela com todo o prazer, apesar de saber que ela no dia seguinte já não se iria recordar de quase nada, tinha fé que se lembrasse daquele momento.

– Oh Bruno, Bruno! Eu estou bêbeda não estou!? – jogando a seu corpo para cima do meu colo. Penso que ela assim se sentia segura, ela parecia um bebé, sempre a pedir a minha atenção, não sei se estava consciente de o fazer, ou se o fazia pelo facto de ser eu a lhe dar a atenção que ela pedia.

– Oh Bruno, a minha voz está diferente. Por favor, Bruno, não deixes que o Diogo me veja neste estado. Tu conheces ele? Não deixes ele me ver assim!

Neste momento preferi, pela primeira vez, que ela estivesse calada. Partiu-me o coração quando falou no tal Diogo, que por pura coincidência não gosto muito do rapaz. Ele é do tipo de pessoa que só usa as raparigas, mas por ironia e apesar de toda a gente saber o que ele é, tem tudo aquilo que quer. Ela levou a noite toda a falar no Diogo, nesse momento entendi que ela deveria gostar dele, perdi a maior parte das esperanças, no entanto sei que ele não lhe liga rigorosamente nada. Ela está a viver uma ilusão, cheguei a essa conclusão naquela noite, enquanto ela estava deitada sobre o meu colo e eu a acariciar-lhe o seu ondulado cabelo loiro. Ergue-se do meu colo e diz-me:

– Bruno, não te vejo bem. Eu vejo estas pessoas todas às ondas, Bruno que se passa comigo? Olha – neste momento ela colocou uma das suas mãos a tapar um olho – já te consigo ver direito, Bruno – fazendo-me aquele sorriso.

Levou a noite toda a dizer o meu nome, não havia uma frase com nexo que não estivesse o meu nome.

– Estou bêbeda, tenho consciência disso, mas é por causa disso que agora tenho coragem para te dizer uma coisa. Foste a melhor coisa que me aconteceu nestes últimos tempos, se gosto de ti!? Não da maneira que sei que gostas, mas o importante na vida não é o amor. Para mim a amizade está acima de tudo. E eu posso te garantir que tu és bastante importante para mim. Não te esqueças que os bêbedos não mentem – voltou a fazer aquele lindo sorriso – dizem o que vem lá do fundo, Bruno, aquilo que são incapazes de dizer quando estão nítidos. Medo? Talvez seja. Mas se as pessoas não dizerem o que realmente sentem, nunca serão felizes. Não quero que te prendas a mim, mas quero que saibas que gosto de ti.

Neste momento entendi o porquê do velho do tambor estar no local do acidente. Ele em vida, nunca chegou a dizer às pessoas aquilo que realmente sentia. Sempre tentou ignorar os seus sentimentos, até que morreu num desastroso acidente de carro e nunca chegou a dizer o que realmente sentia pelas pessoas que o rodeiam. Tive pena do homem, contudo aquele seguimento de palavras saído da boca dela, tinha sido a melhor coisa que ouvi naquela noite, fez-me esquecer completamente o que ela pronunciou acerca do tal Diogo.

Sei que amanha se irá recordar de tudo o que me disse.