Há uma hora atrás estava super
convicta de tudo o que tinha para te dizer, como se as palavras articuladas
entre si criassem uma teia gigantesca e que florissem no assunto principal ao
qual temos andado a fugir noites e noites consecutivas.
Agora que decidi começar a
transcrever e a pensar coerentemente sobre o assunto, as palavras escorregam
por entre os meus dedos, esvoaçam da minha cabeça e não produzem se não uma mente
demasiado aberta. Aberta ao ponto de não conseguir pensar em nada, aberta ao
ponto de me remeter para a noite das piadas internas.
Não estou aqui a tentar criar uma
ilusão, nem tão pouco a tentar mudar alguma coisa em ti, ou em nós. Estamos
perfeitamente bem assim, já que nunca conseguiremos estar de uma outra maneira.
Esta forma já me chega, mas eu sei que não dura para sempre, ou que pelo menos
tem os seus dias contados. Tu és uma pessoa completa, completa ao ponto de não te
importar com o que está longe de ti. Quando estás perto, estás presente. Quando
estás longe, tornas-te um estranho. Um estranho conhecido, um estranho querido,
mas para mim um estranho indiferente.
Contigo aprendi que o mundo não gira
à minha volta, que existe mais coisas para além de mim e que o centro do
universo não se encontra no meu umbigo. Todos estes meus anos de existência eu
sempre consegui tudo o que queria, sempre estalei os dedos e o meu maior desejo
aparecia à minha frente, disposto a ser agarrado por mim. Sempre tive o que
queria e o que sonhava sem ter que exercer um grande esforço para o ter. Muitas
vezes nem sabia o que queria, nem sabia qual era o meu desejo e mesmo assim o
universo proporcionava o ambiente para eu o agarrar e entender que era aquilo
que eu precisava no momento. Contigo é tudo ao contrário. Contigo nada é preto
no branco, nada é certo, nada é coerente. Contigo o mundo gira e vai girando, e
continua a andar e tu nem dás por ele. Ou se dás por ele, não te importa
minimamente com o que sucede ao teu redor. Eu estou aqui a tentar encontrar
palavras para transmitir os meus sentimentos, que estão tão confusos como a
minha cabeça. Eu estou aqui a gritar ao mundo que apesar do teu egocentrismo são
os teus lábios a sorrirem que anseio para mim. É o teu olhar que eu quero
sentir a tocar em mim. São as tuas palavras, que apesar de eu fugir delas, eu
quero ouvir. São os meus medos que eu quero que compreendas e me ensines a
ultrapassar com essa tua facilidade de resolver problemas. És onde eu quero
estar mesmo com todo o tremer de corpo que não consigo controlar quando estás
perto de mim. És a incógnita que eu quero na função complexa que fiz da minha
vida.
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